Minha mente estranha e redes sociais

Wallace Soares
3 min readMay 24, 2020

[INTRO] Me peguei pensando hoje: to com saudade de andar nas ruas. Diferentemente de muitas pessoas que conheço, onde andar no sol de meio-dia não seria uma opção, eu chegava a fazer questão de sair da Avenida Guararapes até a Avenida Cais do Apolo andando debaixo de um sol de meio dia a 30ºC. Isso dava mais ou menos uns 2km. Observar aquelas pontes, as pessoas, a arquitetura antiga do Recife antigo é algo maravilhoso. Aquelas estátuas no início de cada ponte sempre me chamavam a atenção pelo nível de detalhes das esculturas. Hoje fui ao supermercado de baixo de um "toró" que assolava Recife. Apesar da chuva e do peso das compras voltei feliz da vida. Cantando melodias sem sentido algum na cabeça observando as poças no chão enquanto minhas sandálias jogavam a areia nas minhas pernas.

[PLOT TWIST] Uma coisa interessante que também li no livro "No enxame" de Byung-Chul-Han foi sobre nossa interação nas redes sociais. Com seus posts, tweets e nossos teclados, virtuais ou físicos, nós nos afastamos das palavras que escrevemos. Isto é, a pessoalidade que existia no papel e caneta não existe com os "textões", tweets e posts. Eles, apesar de representarem nossas opiniões e linhas de raciocínio, estão longe de possuirem a nossa essência como era feito com o papel e caneta. Ao escrever "a punho", existia uma energia e uma intimidade com as palavras. O que se observa nas redes sociais é uma volatilidade no significado das palavras. Elas sim tem nossos traços, mas existe uma barreira de separação clara entre os tweets e a pessoa que os escreveu. Isso transforma os usuários em personas. Nos personificamos nas redes sociais. Transformamos nossas contas pessoas em assessorias de imprensa. Quem nunca viu uma pessoa(não famosa) se retratando por algo que escreveu e que foi mal interpretado? Isso reforça a ideia de que estamos transformando nossas contas pessoais em representações nossas. Não há a pessoalidade. Entendam que não estou aqui para cagar regra, apesar de parecer. Mas é interessante esse movimento que apareceu com a chegada das redes sociais. As redes deram a possibilidade de qualquer um falar o que quiser. Entendemos o lado bom, mas nem de perto imaginávamos o lado obscuro disso.

O que o papel e caneta tem de íntimo e real nos poemas e livros, as redes sociais torna as palavras apenas bits 0s e 1s na tela.

Um outro ponto levantado nesse livro sensacional é de que as redes, apesar de nos conectar com o resto do mundo estão sempre reforçando e aumentando a bolha que vivemos. Você pode discordar, mas seus seguidores e pessoas com as quais você interage possuem uma enorme tendencia a pensarem igual ou parecido a você. O "social" das redes raramente disseminam a pluralidade de ideias. Ela mais converge em grupos isolados, que podem, ou não, se interagir. Pense comigo: faria sentido criar uma rede social em que há sempre discordância em cada mensagem? Não né. Imagine um grupo de familia que você entra todo dia e só vê pessoas falando coisas que você abomina. Parece um pesadelo. Recentemente, inclusive, o Twitter começou a testar uma nova funcionalidade: bloquear respostas a tweets para somente pessoas que eu sigo. O objetivo é claro: evitar trolls em suas respostas. Mas possui um efeito colateral de aumentar cada vez mais nossas bolhas. A falsa impressão de ter pluralidade de ideias durante uma discussão política no Twitter não passa disso: uma falsa impressão.

O que eu concluo desta parte do livro é de que as redes sociais apesar de darem o poder de voz a todos, também as personifica. Torna seus discursos líquidos. Afasta a responsabilidade. E, apesar de terem como principal objetivo conectar as pessoas, possuem um efeito colateral de nos afastar daqueles que discordam de nós. Nos deixam na zona de conforto. E é essa zona de conforto que, pasmem, esta criando essa polarização no mundo político hoje. Interessante não é? Eu acho.

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